Célia e Celma Mazzei são homenageadas com Moção de Aplausos da Câmara Municipal de Ubá
As irmãs, cantoras e atrizes, Célia e Celma Mazzei, comemoraram 80 anos recentemente e durante a reunião ordinária da Câmara Municipal de Ubá, nesta quarta, 16 de novembro de 2022, foi registrada uma Moção de Aplausos às irmãs ubaenses pela relevante história artística. A Moção foi indicada pelos Vereadores José Carlos Reis Pereira, Célio Lopes, Jane Cristina Lacerda Pinto e José Damato Neto e aprovada por unanimidade.
“As irmãs gêmeas Célia e Celma nasceram em Ubá, Minas Gerais, "num dia 2 de novembro e lá crescemos", como gosta de dizer a dupla. O pai, Celidonio Mazzei, antes de se tornar um renomado fotógrafo da região, foi músico; tocava bombardino na banda de rua local.
Aos cinco anos de idade, Célia e Celma encararam um público pela primeira vez, em um concurso promovido por um circo armado na cidade, ficaram em primeiro lugar, cantando em dueto - e em italiano - a música "Babbo non vuole", ensinada pelo pai que sempre ensinou as filhas as canções de sua saudosa Itália.
Na Rádio Educadora, no programa “A Hora do Guri”, as pequenas cantoras se tornaram a grande atração, cantando ao vivo os “jingles” do refrigerante local, o "Abacatinho".
A dupla cresceu no meio de uma família numerosa - com mais nove irmãos - em uma casa com um grande quintal. Mas, a grande aventura era subir nas árvores do pomar vizinho - da família do compositor Ary Barroso, para “pegar” as frutas.

Com barro, no quintal, gostavam de fazer fogão e panelinhas, brincando de cozinhar; ainda no terreiro montavam os cenários dos teatros que criavam para apresentarem-se aos amiguinhos, com ingresso pago, e tudo! Essas apresentações e as novelas na rádio, foram as suas primeiras experiências como atrizes.
Em virtude da formação religiosa que receberam, participavam ativamente das encenações litúrgicas, do coro da igreja – cantando inclusive em latim - e do coral do Colégio Sacrè-Coeur de Marie, onde estudaram e formaram-se professoras.
Nos intervalos das aulas, criaram o grupo instrumental “Garotas”, sucesso em toda a região e talvez o primeiro grupo instrumental feminino do Brasil. Celma tocava baixo acústico e percussão; Celia, bateria, tendo aulas em Juiz de Fora com Miltinho, que integrou o Quinteto Onze e Meia, no programa de Jô Soares.

Desde meninas, gostavam de acompanhar as manifestações folclóricas de Ubá e arredores. Eram as Folias de Reis e do Divino, os Congados – estes, até hoje em atividade e com a presença da dupla, quando possível. Nas festas populares, lá estavam Célia e Celma dançando quadrilha no ciclo junino, observando os calangueiros e os tocadores de cateretê nos bailes da roça.
Aprenderam os passos do catira e a reproduzir o desenho sonoro dos instrumentos de percussão típicos dessas festas. Desse convívio com o povo, recolheram algumas relíquias da literatura oral, como advinhas, lendas e “causos” do imaginário popular. Um costume que havia na região era falar “de-trás-pra-frente”. Até hoje as gêmeas se divertem, conversando uma com a outra invertendo as sílabas das palavras e até cantam algumas canções conhecidas nessa “língua”.
Enquanto completavam os estudos em Ubá, a dupla apresentava-se esporadicamente nas emissoras de TV do Rio de Janeiro. Já no início da carreira profissional, Célia e Celma foram presenteadas: trabalharam com nomes como Moacyr Franco, o pianista Luiz Carlos Vinhas e os diretores de shows Miéle e Bôscoli.

A dupla conheceu o compositor Carlos Imperial, formando com ele, Ângelo Antônio e Gastão Lamounier Neto, o grupo vocal "A Turma da Pesada" - irreverente, alegre, uma revolução de comportamento, que fez um grande sucesso nos anos 70.
Com a cantora Clara Nunes, o grupo venceu o Festival de Música de Juiz de Fora, cantando a música "Mandinga", de Ataulfo Alves e Carlos Imperial.
Paralelamente, a dupla cantava em bailes, na orquestra do trombonista Ed Maciel e depois no conjunto do pianista Dângelo. Ainda achavam tempo para os estudos: foi quando diplomaram em Licenciatura Musical, no Instituto Villa-Lobos, no Rio.
A dupla apresentou-se em Tóquio, no Japão e foram seis meses cantando música popular brasileira. A marcha brasileira “Taí”, de Joubert de Carvalho, tem uma versão em japonês, feita especialmente para a dupla.
No retorno para o Brasil, a dupla atuou com destaque na então exuberante noite de São Paulo, em casas que fizeram história como "Stardust", "Regine's" e "Viva Maria". No repertório, grandes compositores da MPB, como Ary Barroso, Cartola, Chico Buarque, Caetano Veloso e ainda soltavam as vozes em idiche, italiano, espanhol e inglês.
Nos anos 80, os também gêmeos e cartunistas Paulo e Chico Caruso convidaram a dupla Célia e Celma para o espetáculo "Cromossomos", de humor e música.

Em 84, uma experiência marcante: a dupla dividiu o palco com o grande cantor Cauby Peixoto, no espetáculo "Dance com Cauby", em duas temporadas no Rio. A crítica premiou o show como o melhor do ano que, em seguida, foi apresentado em várias capitais do país.
Em maio de 1986, a dupla pegou novamente a estrada, para o norte e nordeste do Brasil, com o excelente intérprete Emílio Santiago, dentro do "Projeto Pixinguinha".
Em 1987, gravaram o primeiro disco solo. O repertório, voltado para nossas raízes interioranas, tem toadas, guarânias, valseados, rasqueados. Desde então, a dupla fixou residência em São Paulo, passando a nos dedicar ao estudo e à difusão da música regional, em seus diversos estilos, e ao nosso folclore.
Em 1988, Célia e Celma foram à Brasília levar ao então Ministro da Cultura, prof. Celso Furtado, um projeto de criação do "Museu de Imagens e do Som do Sertão". Receberam dele total apoio, mas devido às mudanças políticas e a outras dificuldades em viabilizá-lo, está temporariamente arquivado.
Em novembro de 90, a dupla recebeu o convite da TV Manchete para atuarem como atrizes e cantoras na novela "A História de Ana Raio e Zé Trovão". As personagens formavam uma dupla caipira, "Luminada e Luminosa". Atuaram em toda a trama da novela –que foi sucesso nacional- fazendo muitas cenas com números musicais ao vivo.

Em 1994, a dupla lançou o livro "A Cozinha Caipira de Celia & Celma". Em 95, Célia e Celma receberam em Belo Horizonte, das mãos do prefeito Patrus Ananias, o título "Embaixador do Centenário", pelo trabalho de resgate dos variados segmentos da cultura mineira.
Em 1997, a dupla concretizou o projeto "Ary Mineiro", fruto de uma pesquisa sobre a obra de Ary Barroso, lançado em uma turnê, com um show dirigido por Myrian Muniz.
E em dezembro de 1997, Célia e Celma receberam a Comenda Ary Barroso, da Câmara Municipal de Ubá.
Em 1998, o Canal Rural convidou a dupla para apresentar um programa que mostrasse a cultura de raiz. Assim começou o “Programa Celia & Celma”, que permaneceu nove anos no ar, recebendo o melhor da música regional e caipira, compositores, cantores e instrumentistas, além da riqueza e diversidade do folclore.
Em 1998, outra experiência marcante: a dupla participou do filme "O Viajante", do cineasta Paulo Cesar Saraceni, cantando a valsa "A Tristeza dos Sinos", de Ary Barroso. do CD "Ary Mineiro".

A dupla foi nomeada membro da Comissão Nacional do Centenário de Ary Barroso e em 15 de janeiro de 2003 é instituído o “Ano Ary Barroso”, em cerimônia no Palácio do Planalto. Na ocasião, interpretaram com o Ministro da Cultura Gilberto Gil, “Aquarela do Brasil”, a música mais famosa de Ary.
Célia e Celma lançaram em novembro do mesmo ano, o livro de crônicas “Por todos os Cantos”, ilustrado com fotos do pai, o fotógrafo Celidonio Mazzei. O prefácio do livro é do jornalista Sérgio Cabral e a apresentação foi escrita pelo Vice-Presidente da República, José Alencar Gomes da Silva.
Célia e Celma fazem parte do Fórum Paulista Permanente da Música, coordenando o grupo de trabalho Patrimônio e Pesquisa.
Depois de algum tempo recolhendo receitas e preciosidades do folclore alimentar da região onde nasceram, a Editora Senac/SP publica o livro “Do Jeitinho de Minas”. Nele estão 165 dessas receitas e um brinde especial: um CD com 15 receitas cantadas. O livro recebe na China o prêmio Gourmand World Cookbook Awards, como o melhor de culinária regional de 2006.
Em novembro de 2009, foram a Cuba e se apresentaram para professores e alunos da Universidade Camilo Cienfuegos, em Matanzas. O tema da conferência foi “A música em Minas Gerais: Do Barroco a Ary Barroso.
Voltam animadas para reviver as tradicionais marchinhas, nos festejos carnavalescos de 2010. Fizeram shows em unidades do Sesc, coroando com uma apresentação no encerramento oficial do CARNAVAL da cidade histórica de São João Del Rey (MG).

Fazem uma participação relevante, a partir de 2015, nos espetáculos do consagrado Ballet Stagium, “O CANTO DA MINHA TERRA”, em homenagem ao seu conterrâneo, Ary Barroso.
Em 2017, o CD de Celia e Celma, “CANTO COM C” recebeu quatro pré-indicações ao Grammy Latino. A capa do álbum é uma criação de Ziraldo.
Em 2018, foram homenageadas com o PRÊMIO GRÃO DE MÚSICA, pelo conjunto da obra dedicada à cultura popular brasileira, que conta com 15 discos lançados e participações em tantos outros, como os de Moacyr Franco, Cacique e Pajé, os tributos a Luiz Vieira, Ivon Curi e Martinha.
A dupla, no ano de 2020, festejou o cinquentenário da carreira lançando pela gravadora Kuarup o álbum “CELIA e CELMA, 50 anos”.
Além disto, de 2020 até 2022, durante o confinamento devido a pandemia de Covid, ministraram diversos CURSOS sobre a cultura popular, pela internet.
Por esta história de tanta riqueza musical e cultural, levando o nome de Ubá e do Brasil a diversas cidades e países, registre-se nos anais desta Casa de Leis esta Moção de calorosos aplausos à querida dupla ubaense.
Requerem, ainda que cópia desta Moção lhes seja enviada, com os cumprimentos de todos os vereadores pelo recente aniversário e votos de longa vida.
Plenário “Vereador Lincoln Rodrigues Costa”, da Câmara Municipal de Ubá, aos 16 dias de novembro de 2022.






















